Joaquim Neves da Silva Ribeiro (2013) Capacidade de remoção de nutrientes e da carga orgânica da água de cultivo intensivo de camarão marinho por meio de tanques de sedimentação estáticos com e sem a presença da grama halófita Spartina alterniflora Loisel

Capacidade de remoção de nutrientes e da carga orgânica da água de cultivo intensivo de camarão marinho por meio de tanques de sedimentação estáticos com e sem a presença da grama halófita Spartina alterniflora Loisel

Autor: Joaquim Neves da Silva Ribeiro  (Currículo Lattes)
Orientador: Dr Cesar Serra Bonifácio Costa

Resumo

A alteração da qualidade da água dos cultivos de camarão ao longo do período de engorda pode propiciar condições desfavoráveis para o desenvolvimento, ou mesmo patologias aos animais, devido à elevação das concentrações de compostos nitrogenados e fosfatados, matéria orgânica em suspensão e dissolvida, além da acumulação de micro-organismos. A legislação ambiental brasileira prevê que os empreendimentos da carcinocultura na zona costeira possuam sistemas de sedimentação, opção tecnológica simples e de baixo custo, para manutenção da qualidade da água de cultivos e controle de efluentes. Sistemas de tratamento de água com plantas enraizadas podem ser integrados a sistemas de sedimentação para uma maior eficiência da depuração e geração de subprodutos a partir de efluentes. Este trabalho avaliou a capacidade de remoção de nutrientes e da carga orgânica da água de um cultivo intensivo de camarão marinho Litopenaeus vannamei por meio de Tanques de Sedimentação Estáticos com (TSEV) e sem (TSE) a presença de balsas flutuantes com a grama halófita Spartina alterniflora Loisel. Três tanques idênticos de cada tipo foram operados. Entre fevereiro/março 2012, foram realizados 3 ciclos de incubações consecutivas (C1, C2 e C3) de 500L de água salina do cultivo de camarão. Durante cada incubação, foram realizadas análises da água em 4 diferentes tempos de retenção (0, 24, 48 e 72 horas) para quantificação dos teores de nitrogênio amoniacal total (NAT), nitrito, nitrato e fosfato, além da carga orgânica, estimada pelo material particulado em suspensão (MPS) e teor de clorofila a. A variação temporal dos sistemas de tratamento entre ciclos e tempos de retenção dos nutrientes, da carga orgânica e de parâmetros físico-químicos monitorados foi analisada através de Análises de Variância. C1 apresentou maior carga orgânica inicial na água (médias TSE e TSEV; MPS = 212-273 mg/L, clorofila a = 372-469μg/L) e uma rápida regeneração do fosfato nos dois tipos de tanques (aumento médio de 1376% após 72h), que foi associada à remoção do MPS e clorofila a da coluna d'água e mineralização/dessorção do fósforo no material sedimentado junto ao fundo. Sob menores cargas orgânicas médias (MPS < 182 mg/L, clorofila a < 186 μg/L), C2 e C3 apresentaram taxas de remoção média para o fosfato de até 18%. Foi detectada uma correlação significativa negativa entre os teores de nitrato e de nitrito (correlação de Spearman r-s = -0,46). Em C3, a concentração média do nitrato caiu continuamente e a vii de nitrito aumentou continuamente ao longo das 72 h de retenção atingindo, respectivamente, uma remoção de 31% e um enriquecimento de 251% dos teores na água. Tanto o processo de desnitrificação do nitrato como de nitrificação (conversão da amônia a nitrito) parecem estar envolvidos na variação temporal destes nutrientes. Em todos os ciclos de incubação, as concentrações de nitrato em TSEV foram de 8-19% menores do que em TSE, possivelmente devido à comunidade perifítica aderida às raízes de S. alterniflora. Os valores médios de NAT flutuaram diariamente em todos os ciclos de incubação, mas foram menores do que 15 μg/L, aspecto comum em sistemas de cultivo com biofloco onde ocorrem altas taxas de absorção de amônio por bactérias e pelo fitoplâncton. Ambos os tanques de sedimentação testados proporcionaram diminuição da carga orgânica, tornando a água com características mais próximas às exigidas pelas normas ambientais e possibilitariam a minimização dos impactos a ambientes aquáticos no entorno de empreendimentos da carcinocultura. Os resultados encontrados neste trabalho demonstram que a capacidade de remoção ou liberação de compostos da água oriunda de viveiros de carcinocultura intensiva por sistemas de tratamento estático pode variar em função das características da água do cultivo. A ocorrência de poucas diferenças no tratamento da carga orgânica e nutrientes entre TSE e TSEV foi atribuída ao crescimento depauperado de S. alterniflora, sendo necessárias mais pesquisas no desenvolvimento de estruturas de suporte flutuante e da aclimatação desta halófita à hidroponia.

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